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  • Foto do escritorFlávia Esper

Amor ou jogos de poder?


Há muitas regras que escutamos sobre relacionamentos e paqueras. Boa parte delas falam em "jogos de amor". Explicam como não se entregar por inteiro, como não deixar o outro se sentir seguro na relação, como manter o controle do que acontece. Em outras palavras, ensinam a como não se revelar por inteiro, não ficar vulnerável, não agir exatamente de acordo com o que se sente ou expressar o afeto de forma espontânea.

Essa visão pensa os relacionamentos como palco para estratégias, quase como uma competição em que é impossível relaxar, confiar, entregar-se. Parece ser necessário estar no controle do outro, como numa espécie de gangorra em que ou se está no comando, ou se está rendido e, provavelmente, sem domínio de si mesmo, nas mãos do outro, que pode, inclusive, perder o interesse naquele que se "rendeu".

Muitos casais, em vez de unirem suas energias, parecem competir entre si, como se estivessem num verdadeiro cabo de guerra, cada um puxando a corda para um lado. Ou remando cada qual para um destino, girando em círculos, sem sair do lugar. Além de cansativa e desgastante, essa situação é o verdadeiro avesso do amor.

Como disse Jung, amor e poder são a sombra um do outro. Quem se preocupa com o poder, se afasta do amor, do outro, do relacionamento. Puxa a corda para seu próprio lado, movido pela insegurança e pelo medo. É o medo que nos faz querer ter o controle de tudo. É a insegurança que nos faz querer ter poder. E isso tudo é o contrário de amar.

Não seria mais prazeroso podermos ser sinceros nas relações, podermos nos entregar verdadeiramente ao amor, podermos nos mostrar inteiramente ao outro e recebê-lo também integralmente? Não seria mais divertido se os casais puxassem a corda para o mesmo lado, como verdadeiros parceiros, remando na mesma direção, com confiança e amor?

Essa reflexão não se limita aos relacionamentos amorosos. Podemos expandi-la para qualquer forma de relação humana. É saudável prestarmos atenção a como nos movemos nas relações, a se somos movidos por amor ou por medo e desejo de poder.

Caso percebamos que somos mais movidos pelo desejo de poder, vale a pena buscar as origens da insegurança que nos faz buscar a falsa segurança do poder. O que aconteceu para que não confiássemos mais no amor como força da vida? Em que momento passamos a temer o abandono, o ridículo, a exclusão e passamos a nos fechar, a querer controlar, a criar uma capa de poderosos, para evitar nossas próprias feridas? Ou a agredir para não sermos agredidos?

Qualquer que seja a resposta, a única cura é o amor. É preciso se reconectar com a confiança na vida. Humanos que somos, só nos curamos quando nos incluímos no amor, seja qual for. Enquanto lutamos por poder, agredimos o outro e a nós mesmos, ficamos cegos, nos afastamos do que nos une e acabamos nos tornando solitários. Podemos ter "razão", dinheiro, status, mas, enquanto não afrouxamos a couraça do poder, entramos em contato com nossas fragilidades e nos reinserimos no amor, permanecemos vazios e desconectados.

Saber dar, pedir, receber, aceitar e trocar amor conosco, com os demais seres e com o mundo talvez seja nosso maior aprendizado.

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